Esse homem tinha uma filha. Sua criação mais preciosa, como ele mesmo dizia. Em homenagem a sua falecida amada, nomeou a filha com o mesmo nome. Mas esse homem era um artista, criava brinquedos como mais ninguém! A partir de molas e rodas dentadas, criava verdadeiras maravilhas, andavam, dançavam, agradeciam. Esse homem era um artista, o orgulho da filha! A filha, o orgulho do pai! A noite os dois se reuniam após o jantar na sala, para olhar a lenha da lareira queimar e simplesmente aproveitar a presença um do outro
Tudo ia em ordem até que ela bateu a porta daquela feliz familia... Seduzindo a menina como as dançarinas dos bordeis seduzem seus fregueses, de forma infalível. No dia seguinte àquela dança a jovem já sentia os sintomas do mal, acordou cansada, perdeu a cor, perdeu mais peso que o normal, tosse... O homem desesperado, chamou um médico.
Diagnóstico: Tuberculose
Naquela época, morte certa... A doença dos românticos a havia dominado, o pai nada podia fazer, sua maior obra, condenada... Para poupar a filha, não a contou a notícia. não queria que ela soubesse de sua morte eminente. Todas as noites, o homem chorava na sala, sozinho. A menina já não podia sair da cama... um dia na primavera ela partiu. As janelas daquela casa, nunca mias se abriram.
Durante uma semana o homem não saiu de sua casa. depois disso, passava as noites trabalhando em um projeto pessoal na oficina. Ninguém sabia o que estava acontecendo ali. Boatos diziam que ele tinha enlouquecido, que ele estava trabalhando para esquecer, e coisas do gênero.
Indignado, fui até ele e perguntei o que ele fazia. ele respondeu com um sorriso no rosto:"As vezes, crio brinquedos extraordinários, vivos. A noite simplesmente aproveito a companhia deles em frente a lareira..."