Quem sou eu

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Sou um morador da cidade do rio de janeiro que tem uma visão um tanto quanto peculiar da vida e de outras coisas que nos cercam... Alguns consideram meus textos perturbados outro dizem que é uma "viagem na maionese", ou, até mesmo, consideram meus textos bonitos e profundos, bem independentemente do que eles são, tem gente que gosta de ler-los, logo, não posso reclamar. Bem, se você é uma dessas pessoas, ou se você acha que tudo isso que eu falo aqui é sem sentido, ou até mesmo, acha que eu sou maluco, bem o problema é de vocês. Sim, eu tenho (a bosta) do twitter: @DrPlitek , vou logo avisando que la não tem nada de útil, mas aqui também não, então pode vir a interessar...

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A reunião

Hoje, sim, hoje. acho que é a primeira vez que eu defino de forma tão precisa uma data. Não sei exatamente o porque, mas decidi definir a data em que os eventos daquela noite se desencadearam. Bem, tudo começou de manhã, ou melhor de noite, na realidade naquela hora do dia em que não se sabe se já é manhã ou se ainda é noite. Eu, acordei, acordei pois devia pegar o trem cedo tinha uma reunião, daquelas bem formais, e no fundo um pouco metido à besta. O tópico era alguma referente ao destino da empresa com as atuais mudanças no cenário internacional. Aparentemente, um grupo social nacionalista, ou coisa que o valha estava ganhando poder, não sei ao certo se eram nacionais socialistas, ou se eram comunistas. Pensando bem, para o diretor da empresa ter convocado uma reunião, eles devem ser comunistas, ou um misto maluco dos dois. Nunca da para saber que diabos a população vai inventar. Mas Nazi-comunistas seria um termo minimamente engraçado. Ainda mais se eles fossem uma religião qualquer Teo-nazi-comunistas, ou TNC para ficar mais simples. 

Nem sei porque diabos eu estou falando nisso, mas acho que esse era o tema da minha reunião, e, bem, eu tinha que pegar o trem cedo para burro, e por isso acordei antes de amanhecer, mas quando ainda não era noite, ou seja no momento em que a cidade inteira está dormindo, pois se tivesse todo mundo acordado nós teriamos dado um nome para esse periodo como nós fizemos com a transição do dia para à noite que é a tardinha, apezar desse nome ser minimamente escroto e que eu ia ficar muito deprimido se eu dicesse que eu acordo na noitinha, ou manhãzinha, não sei qual é pior.

Então eu estava apenas de roupas intimas, fui até meu banheiro e joguei uma água na minha cara, eu devia era tomar um banho, mas se eu fizesse eu ia perder o maldito do trem já que eu resolvi enrolar na cama ao invés de levantar direto. Esse negócio de enrolar na cama é o maior problema pois eu vejo que um dia eu vou acabar pegando no sono novamente e perder o meu emprego, não que eu goste do meu emprego, mas ser demitido não ia ser lá a melhor coisa do mundo, afinal, eu tenho que pagar minhas contas e coisas do gênero. Molhei um pouco meu cabelo para ser mais fácil de pentear, gosto de pentear meu cabelo todo para traz, com um pente de osso que um dia foi branco, mas devido ao tempo agora está um pouco amarelado, mas o pente é assim muito bonito, e cumpre seu papel de pentear meu cabelo. Fiz a barba e fui para a minha cozinha procurar alguma coisa para comer.

Quando eu abri a porta da minha geladeira veio um cheiro que não era dos mais agradáveis, eu percebi então que o presunto devia ter passado, eu nem sei porque diabos eu tinha comprado presunto, eu nem gosto de presunto, e para piorar a droga do presunto havia estragado. Peguei o presunto estragado e coloquei em um saco plástico, eu não ia jogar aquilo no meu lixo nem pensar, o cheiro ia empestear a casa toda e eu ia precisar de mascaras de gás para respirar lá dentro. Aquilo tirou completamente meu apetite, eu normalmente não como de manhã mas como eu ia pegar o trem cedo e o vagão restaurante ainda não ia estar aberto, eu pensei em fazer um lanche para levar, mas o presunto estragado me desestimou por completo. Preparei um café com a minha velha cafeteira, eu gostava muito daquela cafeteira, tinha sido minha tia que havia me dado, quando eu ainda era um moleque, minha mãe não gostava que eu tomasse café quando eu era pequeno, então, eu escondia pó de café dentro de um fundo falso na minha gaveta e preparava da maneira turca, com uma panela de cobre, ficava bom para burro, eu parecia um viciado em drogas, escondendo o pó de café, um dia minha mãe descobriu, e perguntou porque diabos eu escondia o café, eu fiquei meio sem graça de responder, ai ela me disse que eu já tinha idade para tomar café, no mesmo natal minha tia me deu uma cafeteira, desde então, eu faço café naquela velha cafeteira e não mais na panela de cobre. Antes de colocar o café para dentro eu fui me vestir, eu precisava esperar ele esfriar um pouco, não gosto nem de café muito quente, nem de café com açúcar, mas entre café com açúcar e café quente, eu prefiro quente, na real, eu não consigo entender como alguém pode ter coragem de estragar o gosto delicado do café colocando aquele pó doce nele, sei lá, para falar a verdade, não sou muito chegado à doces, não que eu não goste, mas eu não entendo essa tara das pessoas por um doce. 

Seja como for, deixei minha xícara na minha mesa e fui ao meu quarto colocar meu terno, está ai uma coisa que pode ser muito demorada dependendo da pessoa que faz, colocar um terno. antes de colocar eu me lavei de novo e coloquei um desodorante e um perfume, eu tenho uma certa paranóia com esse negócio de estar cheirando bem, desde que eu sai com um amigo meu quando eu era moleque, o garoto era gente boa para caralho, somos amigos até hoje para dizer a verdade, mas naquele dia ele não tinha passado nem um pingo de desodorante, nem um pingo sequer, e o pior é que ele não se tocava, e ficava com o braço levantado com a mão atras da cabeça enquanto sentava na minha poltrona, o cheiro era quase tão ruim quanto o cheiro do presunto estragado que estava na minha geladeira, que na real, agora estava em um saco plástico em cima da minha pia. Depois de ter passado um cheirinho, eu coloquei uma camisa branca, dessas regata, para depois colocar a camisa social por cima, eu sei que tem uma porção de gente que não sabe que se tem que colocar essa camisa por baixo da camisa social, mas eu não ligo muito para os outros, nesse aspecto, eu ligo muito mais para outras coisas, coisas mais estéticas de fato, e não um detalhe como esse que ninguém vai reparar de fato. Coloquei minha camisa social, ela era branca, pensei em colocar uma de outra cor mas ela ia desviar da simplicidade que a minha gravata fina propunha. Coloquei minha calça, meu sinto e amarrei minha gravata, a gravata é uma daquelas coisas que o menor detalhe faz a maior diferença, a gravata deve ter sua ponta sobre a fivela, ela não pode passar da fivela e nem terminar antes dela, isso é um detalhe estético que realmente me dá raiva, eu sou capaz de não fechar um contrato com uma pessoa se ela estiver usando a gravata de forma incorreta, é realmente uma coisa que me dá a mais profunda raiva. 

Coloquei meu blazer e me olhei no espelho, meu terno estava impecável como sempre, um terno liso e cinza que caia sobre mim de forma perfeita, a gravata fina e preta me engordava ligeiramente, e transmitia um ar de simplicidade, ambas as coisas eram boas, porque primeiro eu era muito magro, e segundo, eu ia para uma reunião com o meu chefe, e não era bom eu criar atrito com o espaço dele, se fosse um dia normal de trabalho era capaz de eu usar preto, e uma camisa vermelha, mas eu não estava no meu departamento nem nada, não era bom demonstrar muita autoridade, coloquei meu meu chapéu peguei minha maleta e fui tomar meu café. 

Eu ainda estava descalço, mas meu café estava no ponto, estava na temperatura da água da torneira no verão da Somália. Voltei ao meu quarto, abri minha gaveta de meias, peguei minha meia chumbo, vesti meus sapatos, quando eu estava colocando o sapato esquerdo meu telefone tocou, só podia ser o taxi que eu havia agendado no dia anterior, de fato era ele, peguei minha mala, previamente arrumada, meu passaporte e os bilhetes e coloquei no bolso interno do blaser, sai tranquei minha porta e entrei no taxi, ele me levou até a rodoviária, paguei e dei uma gorjeta, fiz isso porque, afinal, ele tinha acordado aquela hora por minha culpa, de certa forma, ele pareceu satisfeito. Sai do taxi e fui para a rodoviária, o trem ia chegar em 5 minutos se sair em 15, enquanto isso apanhei um jornal e li as notícias.

O trem chegou na hora esperada, na estação tinha além de mim apenas um cachorro velho, e uns homens como eu, sem nada, não que eu não tenha nada de fato, mas nada que me prenda, não sei explicar direito, não é bem uma coisa, é mais um olhar, é um olhar vazio, sem esperança, é claro que eu me divirto é claro que eu tenho bons momentos, mas eles são efêmeros se comparados ao tempo que eu passo simplesmente com aquele olhar, é engraçado, é o mesmo olhar que o cachorro da rodoviária tem, se eu não me engano ele perdeu o dono dele e ele está lá, com a esperança de que um dia o dono volte. Acho que o mesmo acontece com os homens e comigo, é como se uma parte de nós tivesse sido perdida é come se nós fossemos incompletos, como se faltasse algo, ou alguém ao nosso lado de manhã, ou um simples sorriso, eu acho que eu apostaria todas as minhas fichas nisso, na salta de um sorriso de um um cúmplice.

Eu e os outros homens entramos no trem, me sentei, ao meu lado havia um lugar vago, era uma viajem internacional, eu tinha de ir ao pais vizinho, encontrar o meu chefe, o dono da empresa, eu cuidava da papelada, quando os assuntos quando dava algum problema. Não vou falar mais sobre meu emprego, não tem muito o porque de eu fazer isso. Na outra estação entrou uma moça, essa moça sempre entra nessa estação, e eu sempre fico com vontade de dizer para ela sentar ao meu lado, para nós irmos conversando, ou coisa parecida, um dia eu pedi para o rapaz que verifica os passaportes para dar um recado à ela, eu à chamei para ir a uma peça de teatro, uma conhecida minha era responsável pelos cartazes do espetáculo, e era a adaptação de um livro o qual eu gostava muito. Seja como for ela não me respondeu, ou porque o rapaz não entregou meu recado ou porque ela resolveu simplesmente me ignorar, como eu não sou um cara que  tenho um espirito muito positivo com os acasos da vida, eu acreditei que fosse a segunda hipótese, isso me deixa maluco, eu faço uma carta toda bonita para a moça convidando ela para algo e ela simplesmente ignora, estaria tudo bem se ela tivesse simplesmente dito, não tenho interesse ou algo do gênero, mas ignorar é sacanagem. Desde que isso aconteceu, eu não tenho mas vontade que ninguém sente do meu lado, as vezes eu penso até em comprar duas passagens para garantir isso.

Faltava um tempo ainda para a viajem, então eu resolvi rever o tema da reunião e o  que eu podia dizer, meu chefe não ia gostar nem um pouco se ele me dissesse o problema lá e eu olhasse para ele com um sorriso amarelo e não dissesse nada, por isso resolvi ver do que o grupo de Nazi-comunistas queria e essas coisas, na realidade, eles não eram nazi-comunistas como eu descobri, mas eu achei esse nome engraçado então foi o apelido que eu dei à eles, sei lá eu as vezes tenho disso. Eu olhei pela janela estava chovendo mas no horizonte o sol aparecia era uma cena muito bonita, o contraste do laranja do raiar do sol com o cinza e o branco das nuvens. Eu adoro ver a paisagem durante uma viajem de trem, principalmente sobre planícies desse jeito que se perdem no horizonte como um mar verde, está certo que o verde estava um pouco acinzentado devido ao tempo, mas eu gosto do tempo assim meio fechado, combina comigo.

Quando o trem chegou na estação que eu devia descer estava chovendo, desde que eu peguei muita chuva e eu fiquei com pneumonia e quase morri eu não saio de casa sem meu guarda-chuva, na verdade, pode estar garoando que eu abro meu guarda-chuva, sou desses cara que é o primeiro a abrir e o último a fechar, eu realmente não gosto de me molhar, na realidade eu odeio. Uma coisa que é engraçado, sempre que eu comento com uma menina que eu estou saindo ou namorando que eu não gosto de chuva a minha pequena resolve dar uma de psicóloga, e me curar. Tem duas em especial que fizeram isso, a primeira eu nem cheguei a namorar, na real ela era minha amiga, mas sabe como é eu tinha um carinho por ela, eu estou sempre me apaixonando por pessoas por quem eu tenho carinho, e que tem carinho por mim, deve ser porque eu considero isso um pouco raro, eu não me vejo sendo o tipo de pessoa que as pessoas gostam logo de cara ou que tem carinho por, é um pouco como o que eu disse sobre a estação de trem e o cachorro, mas que seja. Eu tinha uma queda por essa minha amiga, e eu não sei porque mas acho que ela estava desenvolvendo uma queda por mim, nós fomos à padaria, era uma padaria tradicional daquela cidade, eu me mudei de lá ano passado, tive uns problemas pessoais, mas bem nós fomos tomar café, estava chovendo, como de sempre eu estava com o meu guarda-chuva, bem, ela me abraçou no meio da chuva, abaixou meu guarda-chuva e me beijou, eu me molhei todo, mas valeu a pena, eu achei que nós íamos ter alguma coisa e que eu ia me encontrar, mas eu não aconteceu, o que aconteceu, é que eu tive que viajar para outro estado, e quando eu voltei ela estava com outro, um cara que ela dizia que era como um "irmão" para ela, eu não sei, porque eu não tenho irmãos, mas eu acho que não se deve namorar irmãos, mas pouco importa. Eu fiquei mal por uns dias, mas nada que eu já não esteja acostumado. A outra menina que tentou curar meu problema com a chuva, foi a minha primeira namorada, eu não sei nem como dizer isso, mas se tem uma menina que me completou, foi ela, era tudo perfeito, nós até cozinhávamos juntos, era uma super sintonia, mas eu comecei a ter muitas responsabilidades, e ela disse que eu estava muito ocupado e que eu não dava atenção à ela, foi como uma bala, que atravessa seu coração, dilacerando tudo que tem pelo caminho, é claro que ela não sabe que eu fiquei tão mal, eu nunca disse a ela, o pior foi depois, ela disse que ainda me amava, eu fui a um evento no dia seguinte, ela estava lá, nos cumprimentamos, uma hora ela disse que queria falar comigo, e disse que não tinha problema se eu ficasse com outra pessoa, eu disse que tudo bem, mas eu não queria, eu estava conversando com uma moça, mas só por conversar, a moça realmente era genial, mas nada comparado a ela, não tinha aquela sintonia. Não importa, tudo aquilo acabou ali mesmo, ela arrancou meu coração cuspiu nele e depois pisou, eu não derramei uma única lágrima sequer enquanto ela beijava o "amigo que eu nunca teria nada com ele" dela. Quando eu cheguei em casa quis morrer. Eu sempre bebi, mas foi depois desse dia que eu comecei a usar a bebida para matar as coisas ruins que tinham dentro de mim. Eu chorei a noite inteira. Mas isso é irrelevante, eu abri meu guarda-chuva e chamei um taxi para me levar à reunião.

Quando cheguei no prédio, o porteiro me abriu a porta, eu dei bom dia, ele se espantou, acho que ele não estava esperando o bom dia, apesar de que eu sempre dou bom dia para as pessoas, mas me irrita muito não ser respondido, ignorado, isso bate um pouco com o que eu falei sobre o bilhete. Ao meu ver quando alguém é legal com você é seu dever ser legal de volta, mas isso não acontece muito. Eu vivo encontrando vizinhos no elevador do meu prédio, está certo que como são muitos andares é um pouco complicado eu conhecer todos, mas eu sempre dou bom dia, eles raramente respondem, isso me deixa tão chateado, que eu prefiro não encontrar mais pessoas no meu elevador, ou na portaria, ou seja lá aonde for. A verdade é que eu gosto de pessoas, mas eu sempre acho que as pessoas não gostam de mim, mesmo que isso não seja verdade, eu sinto como fosse. Sei lá, eu sou um cara um pouco esquisito. Uma vez, meus pais me disseram que eu não sou espontâneo, que e parece que eu sou artificial, é claro que na hora eu discordei deles, mas pensando bem, talvez eu não demonstre quem eu realmente sou, eu tenho medo de não me encaixar, porque eu sei que eu não me encaixo.

Eu acabei chegando um pouco cedo, a reunião ia demorar um pouco para começar, um colega meu, apareceu então com uma caneca de café, eu perguntei se ele sabia aonde tinha, ele me apontou, eu convidei uma colega para me acompanhar. Essa minha colega não é uma mera colega, eu posso dizer que ela realmente é minha amiga, eu acho, eu tenho medo de dizer que as pessoas são minhas amigas, a gente nunca sabe se elas nos consideram como tal, ou não. Um dos meus amigos mais próximos pode ser usado como um exemplo para isso. Desde muito cedo eu o considerei meu amigo, nós realmente ficamos bem amigos, mas eu considerava ele um amigo muito antes dele me considerar como tal. Eu não fiquei triste com isso nem nada, afinal, nós somos amigos, mas isso serve para ilustrar o que eu disse a pouco. A moça que servia o café era muito simpática, eu tentei ser simpático também, mas como eu estava com sono acho que ela não entendeu e achou que eu estava sendo irônico com ela, eu não sei, esperei o café esfriar um pouco e tomei, na realidade eu tomei o café aos poucos, e só terminei quando o chefe apresentou o tema da reunião.

Logo após isso, um colega meu foi convidado a expressar sua opinião, sinceramente, ele falou coisas muito pertinentes até, só que elas não se enquadravam com a realidade, muitas pessoas opinaram na linha dele e eu me mantive calado, até que o chefe perguntou o que eu achava. Eu me virei e disse que francamente, discordava de tudo o que tinha sido dito até então. Eu tive medo naquele momento de ter ofendido o meu colega, afinal era a opinião dele, mas ele estava totalmente equivocado, propus uma outra saída, que foi aceita e aprovada. Era para eu ter me sentido bem com aquilo, mas eu me senti péssimo. a reunião acabou eu me retirei.

Eu tinha que pegar um taxi, para voltar para a estação, uma colega saiu comigo, eu ofereci nós dividirmos um taxi, ela ia pegar um trem também, mas outro, ela tinha um guarda-chuva roxo, eu adoro roxo, é uma das minhas cores favoritas, pouca gente sabe mas uma menina de roxo mexe comigo, mexe mesmo. Eu abri a porta do taxi para ela nós fomos conversando todo o percurso. Quando nós chegamos na estação o trem meu trem já estava lá, mas o dela não, eu não sei o que me deu, eu fiquei lá, parado, olhando para ela, paralisado, como se aquele momento estivesse congelado, ela também me olhava, até que o trem apitou dizendo que ia sair, eu continuei parado, ela virou e me perguntou se aquele não era meu trem, eu disse que sim, ela perguntou se eu ia perder ele, eu quase respondi que sim, mas eu disse que tinha que ir, eu estava meio abestalhado, ela riu de mim, mas acho que foi uma risada boa. Eu passei o dia abestalhado lembrando dela com o guarda-chuva roxo. Juro que eu pensei em chamar ela para ver a tal da peça, mas ela mora em outro país ela provavelmente não iria se descambar para o meu só para ver uma peça de teatro, com um cara estranho como eu. Bem pouco importa isso agora.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O Fundo

Ao anoitecer da manhã, meu alerta sonoro soou. Fui, como de rotina, em direção ao espelho de meu teto. Quando o atravessei para começar minha caminhada, recebi uma carta entregue por um pequeno ser com aparência de inseto. Ao me entregar a carta ele abriu as asas e voou, me perguntou porque eu não fazia o mesmo. Indignado eu disse, que eu não possuía asas, ele me disse que todos temos asas, basta nós as abrirmos... e se foi voando. Aquilo me deixou perturbado, e eu gritei aos quatro ventos que não queria voar, que a minha condição era aquela e nenhuma mais. Os tucanos riam de mim, até que um deles me perguntou, porque que eu insistia na história de não ter asas, e eu o contei a história de quando fui lesado. Com um olhar cínico me questionou, se eu havia sido roubado o que eram aquelas penas pretas em minhas costas, eu neguei a existência de penas. O pior cego é o que não quer ver disse o tucano, que pois-se a voar. Entrei no meu espelho, abri minha carta. nela havia um novo espelho entrei nele. Cai. O espelho dava a um precipício sem fim. Cai. Cai. Finalmente cheguei ao fim. O buraco era tão profundo que não se podia ver a luz que vinha do topo. Em pensar que um dia eu fui luz, agora era um anjo caído, sem asas, sem luz... morto.

 Até que um vaga-lume apareceu e me perguntou porque eu não saia de lá, se minhas asas estavam tão grandes? eu disse que não tinha asas ele então me iluminou eu eu as vi! Disse que eu estava morto a muito tempo, que meu coração a muito era negro e que agora que eu tinha minhas asas de volta, eu precisava encontrar minha luz. Levantei de meu túmulo abri minhas asas.  Negras asas, enormes uma bela plumagem, um contraste marcante com minha alva pele. 7 eras se passaram sem que eu, o primogênito, voasse... Agora eu tinha retornado, só me faltava a luz

sábado, 20 de outubro de 2012

A Libélula

Existem momentos que simplesmente são fatais. Um desses momentos me ocorreu a uns anos no passado de um futuro o qual não irá ocorrer. Fui ao encontro de umas pessoas, as quais eu conhecia, mas elas ainda não me conheciam, isso porque meu primeiro encontro com elas foi num futuro próximo, mas o primeiro encontro delas comigo aconteceu no passado, mais especificamente, naquele momento. É minimamente curioso e um tanto espantoso conhecer pessoas que você conhece em um outro momento da linha temporal. Eu sabia que era melhor eu esperar a ordem natural, para que ocorresse a primeira interação, ou até mesmo viajar para o momento propício à primeira interação. Podemos dizer que eu sabia que era um erro. De fato eu sabia, pois eu já o havia cometido, não uma vez, mas uma infinidade de vezes. Aquele mesmo erro, com aquelas mesmas pessoas, naquele mesmo momento. Afinal., se eu evitasse esse erro a estrutura temporal se decairia, e eu seria um ser diferente. Não que o que eu seja bom, mas o que eu sou é conhecido, é intimo. Na realidade, evitar aquele erro seria evitar a amputação de minhas asas. Porém isso acarretaria em uma outra consequência gravíssima. Eu perderia a minha maior desculpa para não voar...
Quando eu cheguei no local e na data em que eles iriam se reunir, eu adentrei a dimensão em que eles se encontravam. tudo era tão familiar para mim, as conversas, os assuntos, as pessoas, já havia passado por aquele momento milhares de vezes. Mas como sempre a reação deles não é boa quando me conheceram. Quem é esse? Muitos se perguntavam, e eu imponente com toda minha glória, com meus louros, minha força, adentrei o salão escuro, e os iluminei com minha sabedoria, como o sol entra pela janela após a noite, trazendo novamente a vida. Porém, como o rei dos hebreus, eu também conhecia meu fatal final. O conhecia  intimamente, ele já havia ocorrido, e voltaria a ocorrer. Como de habito estava tudo em seus trinques quando eu percebo aquela que irá me entregar, a minha judas. Uma moça, dos cabelos longos com cachos e um olhar penetrante. Eu já sabia, que ela iria me seduzir e cortar minhas asas, era esse o ritual, da mesma forma que a fêmea do louva-a-deus se alimenta da cabeça do macho, ela faria o mesmo mas com minhas asas. Como um boi indo para o abatedouro, me aproximei e interagi com ela, fiz um comentário sobre seu colar, fiz contato físico. Durante resto da noite o ritual foi realizado, e minhas asas cortadas, e com elas ela foge voando ao horizonte. Começava a era regida pela lua, quando a noite se estabelece. Minha caminhada continua, termina, começa. O final, o início e o meio de crise cíclica e compulsiva.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O Pomar

 Era uma casa no estilo colonial, paredes brancas, detalhes em madeira, quando dei por mim estava na sala sentado na cadeira de balanço, a primogênita da família entrou, e me perguntou como eu estava, exitei um pouco e respondi melhor, uma pausa, um pouco melhor, aliviada me perguntou se gostaria de dar um passeio, respondi que sim, apesar de que na verdade preferir ficar em casa e observara as moscas pousarem nos restos de comida localizados em cima da mesa, mas nunca que eu iria dizer isto à ela, ela se posicionou atráz da minha cadeira de rodas, e começou a me empurrar para o nosso passeio.

 Pela fazenda caminhávamos, com um sol a se por e o outro à levantar, deveriam ser umas... cinco horas da tarde, estava cedo, nem todos haviam se levantado, fomos ao pomar, quando chegamos lá nos deparamos com uma grande macieira carregada, deitamos para observar a natureza, sentia uma certa aproximação inconveniente proveniente dela, ela me olhou e sorriu, sem graça fui obrigado a retribuir, ela aproximou a cabeça de mim e a apoiou no meu colo. aquele contranjimento me fez sentir um certo formigamento dentro de minha cabeça, mas ficou realmente intenso quando ela me chamou de doutor.

 Doutor. sim, respondi, ela me fez perguntas sobre os lugares que visitei, fingir ouvir e dei respostas em modo automática, estava em um estado quase em outro mundo quando ela repetiu. Doutor. que foi querida, respondi, me explica de onde vem os coelhos? Quando ouvi coelhos, senti o aroma adocicado do coelho assado de minha avó, mas quando processei a frase como um todo, exitei, ela tinha uns dezessete anos pelas minhas contas, e me perguntava sobre sexo. Sabia perfeitamente que ela estava se fazendo de ingenua, entrei na brincadeira, em meia hora, dava aulas práticas de reprodução, no momento não pensei em como aquilo podia ser problemático, até que, o irmão mais novo dela nos viu.

 Aquele vadio correu para contar para seu pai, ela se aproximou do meu ouvido e sussurrou, agora você vai ser meu para sempre. Vadia! exclamei em pensamentos, nuca fui um home de muitas palavras, teria de me casar com ela, naquele momento até grávida de mim ela devia estar, ao menos bonita ela era, peguei meu cavalo e disse, então venha comigo para longe, seu pai ira matar-me se eu aparecer em sua casa. Entramos na espaçonave e como dois cosmonautas voamos para as estrelas, seguidos por lindos peixes coloridos.

Acordei na minha cama naquela maldita casa colonial, com o pai da moça a me olhar, fui falar, ele me interrompeu e disse, guarde suas forças,  minha filha me disse tudo, vadia, você desmaiou, não está acostumado com ainda com o clima daqui, nada de passeios para você, me adiantei e perguntei, aonde estava filho, que filho? ele perguntou, disso me deu um alívio, digo filha, me corrigi, queria agradecer-la, pois não vou chama-la.

A doce menina entrou em meu quarto, e pediu desculpas, perguntei porque, ela explicou que não devia ter me levado para o passeio, disse que havia sido maravilhoso, e que a companhia, fora adorável, ela se avermelhou de vergonha, de fato, ela era linda doce e meiga, dez dias passaram e estava provavelmente apaixonado por ela, estava melhor, de fato havia me acostumado com o novo planeta, estávamos no pomar, e ela se virou e disse, sabe o que é engraçado?, não, respondi, estou grávida de você, ela riu, e me beijou, fiquei pálido, branco como a neve, até que percebi que, de fato, estava num altar e tinha acabado de dizer sim.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

A Guerra

Era dezembro. Estava enterrado, entre o suor e o sangue dos meus irmãos, numa vala coletiva, esta cavado por nós, e apelidada de trincheira. Admito, não sei a quanto tempo estava ali, mas cada batimento cardíaco era uma eternidade.

 Estava com sede peguei meu cantil enferrujado, dentro havia uma água barrenta e que cheirava aos dias chuvosos em estábulos, de fato era até um cheiro agradável, disfarçava o cheiro de podridão dos cadáveres ao meu redor. Aproximei meus lábios ressecados do gargalo, lentamente os abri e lhes encostei na rosca suja de terra, sangue,  e ferrugem. Dei três longos goles, o cantil estava gelado meu rifle estava gelado, meu amigo de infância, que estava ao meu lado estava mais gelado.

 Seus olhos, fechados  o sangue em sua roupa já, seco, e ele começava a exalar um cheiro, que só os mortos exalam.  A morte do meu amigo, foi simples, um tiro, uma morte, uma vida. A ultima coisa que ele me disse foi: não sei por que estou lutando, espero que valha à pena.

 Chega dessas reflexões! peguei meu rifle, armei-o, levantei, e atirei. Um tiro, uma morte, uma vida, um amigo, um pai. Se fosse eu que tivesse levado aquela bala no pescoço, não voltaria nunca para casa, nunca mais iria abraçar a minha filha, nunca mais beijaria a minha esposa, ela teria perdido o além do irmão, o marido para gerra. Aquela guerra não era minha, aquela cova, não era a minha, porque o sangue tinha de ser o meu, do meu amigo, ou do homem que eu havia acabado de matar? Nenhum de nós tinha motivos, resolvi desertar, levantei olhei a foto das minhas meninas, a mãe e a filha,ás beijei, me levantei, ergui, sai da vala, me levantei.

 Fuzilado, senti os dez tiros penetrarem meu peito, um a um, rompiam a minha pele rasgavam a minha carne dois pegaram nas minhas costelas, os outros me atravessaram como manteiga, senti o frio dos mortos, vindo de dentro de mim, senti o cheiro, o gosto do meu sangue, olhei para o medalhão com a foto da minha esposa e da minha menininha, minha visão ficou turva, e lentamente embaçou em negro, cai no chão senti a lama em meu rosto. Cada batimento cardíaco era uma eternidade...

sábado, 16 de abril de 2011

O Homem que Fazia Brinquedos

 Virando a esquerda no beco das rosas negras havia, a muito tempo, uma pequena lojinha de brinquedos. trabalhava la, um homem, cujo o nome não me lembro, mas cujo a história nunca vou me esquecer...

 Esse homem tinha uma filha. Sua criação mais preciosa, como ele mesmo dizia. Em homenagem a sua falecida amada, nomeou a filha com o mesmo nome. Mas esse homem era um artista, criava brinquedos como mais ninguém! A partir de molas e rodas dentadas, criava verdadeiras maravilhas, andavam, dançavam, agradeciam. Esse homem era um artista, o orgulho da filha! A filha, o orgulho do pai! A noite os dois se reuniam após o jantar na sala, para olhar a lenha da lareira queimar e simplesmente aproveitar a presença um do outro

 Tudo ia em ordem até que ela bateu a porta daquela feliz familia... Seduzindo a menina como as dançarinas dos bordeis seduzem seus fregueses, de forma infalível. No dia seguinte àquela dança a jovem já sentia os sintomas do mal, acordou cansada, perdeu a cor, perdeu mais peso que o normal, tosse... O homem desesperado, chamou um médico.

Diagnóstico: Tuberculose

 Naquela época, morte certa... A doença dos românticos a havia dominado, o pai nada podia fazer, sua maior obra, condenada... Para poupar a filha, não a contou a notícia. não queria que ela soubesse de sua morte eminente. Todas as noites, o homem chorava na sala, sozinho. A menina já não podia sair da cama... um dia na primavera ela partiu. As janelas daquela casa, nunca mias se abriram.

 Durante uma semana o homem não saiu de sua casa. depois disso, passava as noites trabalhando em um projeto pessoal na oficina. Ninguém sabia o que estava acontecendo ali. Boatos diziam que ele tinha enlouquecido, que ele estava trabalhando para esquecer, e coisas do gênero.

 Indignado, fui até ele e perguntei o que ele fazia. ele respondeu com um sorriso no rosto:"As vezes, crio brinquedos extraordinários, vivos. A noite simplesmente aproveito a companhia deles em frente a lareira..."

domingo, 10 de abril de 2011

A Luneta


 Por entre as cortinas da janelas de seu apartamento, um pervertido observava com sua luneta a formosa Isabela:

 Ah! Isabela, com seu corpo de sereia, pele cor de bronze devido ao sol do litoral recortado pelas mais lindas praias, as quais essa doce criatura costumava freqüentar, morena, afinal, quem precisa ser loira quando se tem a beleza negra dos cabelos de Isabela? Seus olhos, eram como a noite estrelada, negros como o breu, mas cintilantes como a purpurina prateada assimilada ao corpo da rainha de bateria das escolas de samba que desfilam na Sapucaí.

 Isabela estava chegando em casa, hoje era um dia da noite. ia sair com as amigas, ir a uma roda de samba que acontecia ali nas redondezas, retirou suas roupas, mostrando aquele corpo delicado como cristais tchecos. Lentamente, retirou seu sutiã, revelando assim seus seios suas marcas de sol, sua verdadeira cor, suas intimidades, foram reveladas logo em seguida, apenas "De dar água na boca" podia expressar o que o pervertido que a observava estava sentindo. Isabela pegou sua tolha e se pôs em direção ao banheiro, com seu andar rebolado, que hipnotiza da mesma forma que o pêndulo, balançando de la pra cá, de cá pra la. Esta cena de poucos segundos, fora tão emocionante que parecia uma vida, valia mais que uma vida...

 Quando Isabela saiu de seu banho, o vapor a circundava, formando uma imagem digna do nascimento de Venus ela pôs seu belíssimo vestido tomara que caia pegou seu celular e saiu... Ao passar pelos bares, os bêbados que discutiam as ciências, políticas, filosofia e afins, paravam perdiam o fôlego, o fio da meada, pediam mais uma dose e recomeçavam as intermináveis discussões, mas com os pontos de vista trocados. Isabela ria sutilmente e continuava a andar.

 Meia noite e quarenta e sete, um corpo caido na sarjeta, sangue escorrendo para os bueiros, um celular tocando, um vestido rasgado, uma isabela a menos... Fora violentada, assassinada e descartada. Pobre coitada...

 E o pobre pervertido apaixonado?

 Por entre as cortinas da janelas de seu apartamento, um pervertido observava com sua luneta a formosa Bianca:

 Ah! Bianca ...